José Roberto Mendonça de Barros
Os mercados abriram o ano absolutamente confiantes de que, sob Donald Trump, o excepcionalismo americano continuaria a ser uma realidade.
Três grandes fatores seriam os responsáveis por essa situação: um persistente crescimento tecnológico que tem resultado em empresas gigantescas nas quais a bola da vez é a inteligência artificial; um grande crescimento do setor de energia, puxado pelo petróleo e pelo gás natural; e, finalmente, a predominância do dólar como moeda reserva e de trocas, bem como do mercado de títulos do Tesouro risco zero para os aplicadores globais.
Essa base já estava sendo parcialmente ameaçada no que tange à área tecnológica. O surpreendente caso do DeepSeek tirou a convicção do domínio dos EUA em IA. Ao mesmo tempo, não se tem certeza de que as grandes empresas de tecnologia irão gerar produtos e fluxos de caixa para sustentar as fenomenais avaliações dessas companhias.
Mas o anúncio do tarifaço decretado por Trump na semana passada mudou qualitativamente o jogo, e para muito pior. Antes de tudo, desde sua posse, o presidente americano vinha ameaçando com esse movimento e gerando uma enorme incerteza sobre o futuro do comércio, trazendo paralisia de decisões de investimentos. Mas a realidade se mostrou ainda pior, soterrando a expectativa de muitos analistas e agentes de que, ao fim e ao cabo, as tarifas não seriam tão altas como acabou ocorrendo.
É preciso entender que raramente um movimento de política econômica contém tantos erros primários como os que comete Trump. Ele acha, por exemplo, que quem pagará a tarifa é o país exportador e não o consumidor americano.
É seguro que o novo pacote provocará inflação, redução de atividade nos EUA, que pode até viver uma recessão, e uma vasta paralisia decisória até as empresas poderem avaliar a situação. A precariedade das medidas, o evidente improviso da decisão, a possibilidade concreta de retaliações comerciais, como a que prontamente fez a China, e a gigantesca queima de credibilidade na política americana trarão queda no crescimento global.
Além dos efeitos de curto prazo, foi detonado um processo de redefinição geopolítica dos principais participantes da economia global, cujo resultado é impossível ser conhecido hoje.
Mas o mundo será mais arriscado e pedregoso, especialmente porque a aventura tresloucada de Trump vai acabar mal, como é a impressão generalizada da qual partilho.
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